Em tempos de inflação corroendo a rendado trabalhador, a dona de casa
precisa fazer verdadeiro malabarismo para que o salário cubra as despesas do
mês. Escolher produtos de marcas próprias nas prateleiras dos supermercados
aparece como opção para o bolso do consumidor. A economia pode chegar a 137,29%
quando comparado com o de marca líder, como é o caso da alface americana
higienizada (unidade), cujo valor varia de R$ 12,79 a R$ 5,39.
O Diário percorreu as principais redes supermercadistas presentes no
Grande ABC e constatou que a cesta composta por 12 itens básicos fica 23,28%
mais barata se todos os produtos forem de marca própria. O preço total é de R$
44,79. Esse mesmo conjunto de produtos sai por R$ 55,22, quando a dona de casa
opta pelas líderes de mercado.
A segunda maior variação é do café (500 gramas). Enquanto que o pacote
do pó de marca própria é vendido a R$ 4,95, o de logo tradicional é
comercializado por R$ 6,99 – diferença de 41,21%.
O contrário também pode acontecer. No caso do feijão, algumas marcas
próprias são mais caras do que as tradicionais. Nesse quesito, vale a pena
pesquisar. No entanto, o saldo total compensa para bolso.
Apesar dos itens mais baratos ocuparem cada vez mais as gôndolas dos
mercados, a maioria continua optando por levar para casa as marcas
tradicionais.
“Na correria do dia a dia não temos como lutar com a força do hábito.
Já experimentei alguns produtos e, mesmo sendo bons, continuo levando os mais
caros para casa”, confessa a aposentada Elisete Pereira, 52 anos.
Na opinião da dona de casa Josefa Staff, 61, alguns itens têm a mesma
qualidade, mas outros, não. “No caso do arroz, utilizo o mesmo há mais de duas
décadas. Já acostumei com o tempo de cozimento e deixo ele no ponto que quero,
não abro mão.”
O que muita gente não sabe é que grande parte dos produtos de marcas próprias
tem a mesma qualidade daqueles das líderes, já que o fabricante é a mesma
empresa. “Pagamos por um logo, por uma marca. Os produtores fazem isso para
expandir a base de consumo, como para diferentes classes sociais, e também para
ganhar em escala. Isso significa que com produtos mais baratos, a chance do
consumidor levar vários para aproveitar o preço é grande”, explica Rodrigo
Mariano, gerente de economia e pesquisa da Apas (Associação Paulista de
Supermercados).
Segundo ele, a marca própria surgiu de forma distorcida em relação ao
que ocorre no Exterior. “As pessoas pensam que são produtos mais baratos por
terem menor qualidade, por serem inferiores. Na verdade não se trata disso, é
mais questão de imagem das empresas líderes.”
Mesmo considerado nicho pouco explorado e que ainda engatinha, a
empresa de pesquisa Nielsen apurou que em 2012 o segmento movimentou R$ 2,8
bilhões de faturamento, mais que o dobro do registrado há seis anos. “É
tendência”, reforça Mariano.
O estudo aponta ainda que o patamar brasileiro para marcas próprias
está aquém da média nacional e ocupa o quinto lugar entre os países da América
Latina. Os itens mais baratos ficam atrás das marcas básicas, premium e as de
inovação, no critério dos clientes.
Supermercados investem em segmentos diferenciados
As marcas próprias são sinônimo de investimento por parte das grandes
redes supermercadistas. Para se ter ideia, no último ano, o volume de produtos
vendidos no Grupo Walmart registrou incremento superior a 10% em relação ao
período anterior e crescimento de 15% no faturamento – entre as 1.700
mercadorias em mais de 40 categorias que a rede oferece.
Com matriz em Santo André, a Coop (Cooperativa de Consumo) já acumula
em seu portfólio 490 itens, divididos em alimentos, bebidas, higiene e
perfumaria, limpeza, pet shop e bazar. O negócio tem dado tão certo entre os
clientes que os produtos passaram a ser disponibilizados também na Coopbrasil
(Cooperativa Central de Consumo).
Desde 2006, o Grupo Pão de Açúcar (unidades Extra e Pão de Açúcar)
trabalha com o conceito de marcas exclusivas. Hoje, o portfólio é formado por
cinco marcas focadas em itens saudáveis e de bem-estar; no melhor
custo-benefício; vinhos; produtos franceses e artigos para casa. Anualmente,
entre 10% e 20% do portfólio são alterados.
“Desde o lançamento da categoria até agora, observamos que o consumidor
vem se fidelizando às marcas, reconhecendo-as e buscando-as nas gôndolas. Os
produtos exclusivos não possuem mais a imagem de inferior a preço barato,
porque é imprescindível para qualquer empresa conquistar a confiança do
consumidor e isso se consegue não apenas com preço justo, mas com qualidade e
sortimento diferenciado”, defende Andre Svartman, gerente de marketing da
companhia.
No caso do Carrefour, diante da consolidação deste segmento, o grupo
diz investir constantemente em estudos para identificação de novas mercadorias.
Ao todo são 9.000 produtos de marca própria, distribuídos em sete linhas. Entre
as mercadorias mais procuradas têm destaque o arroz e feijão.
Fonte: Diário do Grande ABC